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quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Baghavad-Gîtâ" - Parte II

ANTECEDENTES DA BATALHA

Sendo o Baghavad-Gîtâ um texto contido no épico, nos conta o Maabárata que: Em Hastinapura, antiga capital do país, reinava Vichitraviría que desposou duas irmãs, mas faleceu sem deixar herdeiros. Obedecendo à tradição oriental daqueles tempos, o governo foi tomado por seu irmão Vyâsa, que se casou com suas viúvas e gerou dois filhos. O primogênito, Dhritarashtra, além de mais cem filhos gerou o mais velho Duryôdhana. Pându, segundo de Vichitraviría e irmão de Dhritarashtra, teve cinco filhos que mais tarde foram sagrados príncipes guerreiros e conhecidos como os cinco principais Pândavas.

Sobrevindo cegueira ao rei Kuru Dhritarâshtra, que passou a governar apenas nominalmente, o comando do reino ficou a cargo de Duryôdhana, que expulsou da Índia os filhos de Pându, seus parentes, os quais depois de aventurarem-se pelo mundo, voltam acompanhados de um poderoso exército e valiosas armas.

Para alcançar o cerne filosófico da Sublime Canção faz-se necessário o aprofundamento quanto ao significado das diversas figuras e personagens da história.

HASTINAPURA

Conhecida como a Cidade dos Elefantes, significa o alvo pretendido pelos guerreiros. O elefante, por seus olhos pequenos, orelhas grandes que remetem à capacidade de aprender e julgar, a priorização da recepção à emissão, o reconhecimento do “Só sei que nada sei”, socrático; além da sua excepcional memória, serenidade e bondade - pois diz-se que desviam das formigas -, tem características que, somadas à sua extraordinária força para eliminar os obstáculos, o tornam o animal o símbolo do homem sábio: Aquele que soma ao "elefante" a prática de virtude pelo conhecimento.

Hastinaputa é, pois, o estado de consciência superior no qual o ser se reconhece Homem-Divino apartado do que não seja o seu Eu Atemporal. Por este motivo, é o alvo, a objetivo dos Pândavas que se encontram em superior estágio de evolução espiritual do que os Kuravas.

VICHITRAVIRÍA

O nome do rei infértil significa “Poder de muitas espécies, multicor”. No contexto da obra, esta espécie de poder multifacetado e desvirtuado na vastidão da sua incoerência é enfraquecido no próprio poderio, porque é desprovido de um Ideal, é estéril. Suas duas esposas irmãs representam os caminhos da Verdade e das ilusões. Sem o foco ao Ideal transcendente, incapaz de frutificar tanto no campo do Eu Superior, como no do Eu Inferior, este poder encontra sua morte na Sabedoria, pois esta é o caminho que eleva o ser a partir da sua tomada de rumo à Verdade. Hastinapura não admite ser governada por este poder inferior. Vichitraviría, pois, precisa ser suscedido, o que ocorre por seu irmão, Vyâsa.

VYÂSA

Considerado ao mesmo tempo autor e personagem da saga, pois que é pai de Dhritarashtra, Vyâsa comunica ao próprio filho, através do serviçal Samjaya, não apenas o que se desenrola no campo de batalha mas, sobretudo, os próprios ensinamentos de Krishna. Este é um fato substancial que traduz e realiza a natureza divina que “permite” sejam seus ensinamentos transmitidos aos dois exércitos, simultaneamente – o que exprime a essência de Deus tornando possível reconhecer qual o Seu código de normas.

A percepção dos inimigos, determinada pelo grau evolutivo de cada qual, é o que faz a um engajar-se na difícil guerra e, ao outro, ao invés de render-se diante do reconhecimento de sua visível inferioridade, persistir na insanidade cavando sua derrota.

Vichytraviría, o poder decadente, tem como “irmão” o que significa “Agrado” ou “Prazer”, personificados em Vyâsa. Que vem como uma espécie de dádiva do próprio Espírito Eterno ao reino. O prazer toma do poder seus Caminhos e gera as personificações de cada um deles, os filhos Dhritarâshtra e Pându.

Vyasa mostra, com isso, que é essencialmente justo pois gera os opostos. Além disso, observamos que estéril era Vichitravería, poder corrupto e estagnado, não suas esposas.

DHRITARASHTRA e PÂNDU

Respectivamente, representa o primeiro a vida material, o instinto, o Eu Inferior e, o segundo, o Eu Superior, o elemento espiritual e o intelecto. Pându significa também “claro”, “pálido”, indicando que alva é a espiritualidade e, escura a materialidade.

O Instinto da materialidade gera, dentre seus filhos, a Obstinação de Duryodhana, o qual tem a qualidade de ser “dificilmente vencível”.

É evidente que este fato nos remete à enorme gama de atributos do homem. Em sentido transcendente explica o Deus que dota a sua expressão material de capacidades essenciais de superação e transcendência. Sendo a Obstinação (Duryôdhana) a primeira qualidade do homem - pois que o primogênito de Dhritarârashtra -, o compromisso individual de cada homem de alimentá-la, como a um filho, é o de torná-la apta para conduzi-lo a Hastinapura.

É instintivo do homem valer-se de sua obstinação. Ocorre que os apegos ao poderes e prazeres inferiores, como ao rei Dhritarâshtra, lhe cegam e sucede Duryôdhana que auxilia em seu governo. Esta passagem do mito afirma que: Cego o instinto, a derrocada do ser material se inicia quando a obstinação, arraigada apenas em suas necessidades, se lança à guerra desprovida de mente e espírito. Será morto cada guerreiro - o que mostra que o Caminho para a travessia está aberto a todo instante, mas não sem antes causar enorme pavor e destruição. Esta Obstinação aos apelos materiais, acabam por expulsar os Pândavas de seu reino, eis que são representantes dos elementos do Eu Superior.

No “Baghavad-Gîtâ”, a cidade está à beira da invasão. Insistentes no objetivo de conquistar o grau mais elevado do ser, superiores e com novos partidários retornam para a retomada, os cinco filhos de Pându.

OS FILHOS DE PÂNDU

Os filhos de Pându são banidos mas arregimentam um exército, se unem, avolumam suas as tropas com guerreiros de reinos vizinhos. São a excelência da capacidade intelectual e espiritual do homem, contida em seu Eu Superior.

ARJUNA

É o homem em evolução. Aquele já se dirigiu armado ao campo de batalha, para retomar o seu lugar, Hastinapura. O guerreiro que conhece a necessidade de subjugar os apelos do Eu Inferior mas que reluta, apegado às ilusões e aos vícios os quais ainda julga dignos de sobrevivência. Ele simboliza o Homem que ainda precisa comungar com a divindade para empunhar de uma vez por todas a sua espada. Ele é amigo de Deus. Já consegue estabelecer uma via direta de comunicação com a divindade. Conhece o Caminho. Tanto que seu cocheiro é Krishna – divina partícula da Essência Eterna. É à Divindade que Arjuna confia a condução de seu corpo e de sua mente pura (cavalos) (branco) obediente, simbolizada pelos carros de guerra conduzidos por cavalos brancos.

E a divindade é sua amiga. Deus, também por Seus Avatares (como Buda e Krishna. Algumas pessoas consideram também Cristo), se comunica com este homem, com Arjuna. O aconselha e estimula, explica-lhe sobre a sua natureza e a sua relação com a Unidade, e lhe direciona à vitória.

Arjuna é o homem em transformação que luta alado a príncipes guerreiros, interpretados como os atributos elevados de consciência e princípios de espiritualidade.

Exímio arqueiro, como descreve o “Mahabarata”, do exército das forças superiores, Arjuna é a representação do homem na vida (campo de batalha) do “Bem” e do “Mal”. O Filho da Alma (Kunti) contra os filhos das forças cegas da matéria, lutando contra os vícios, os apegos, as paixões, o egoísmo.

REIS, HERÓIS E GUERREIROS

Nas fileiras dos Pândavas são encontrada figuras da mitologia oriental mencionadas no Maabárata. Reis como Drupada e seus filhos; heróis como Bhima (terrível), guerreiros como Purujit, o “conquistador da cidade”, o próprio Arjuna, bem como são elencados os seus trunfos, generais e heróis que sempre representam forças, inclinações, atributos, artes, ciências e paixões que agem harmônicas com a Vontade Divina. As forças inferiores são representadas, por exemplo, pela citação de Brishma (Terror) ou o Egoísmo; Karna, talentoso arqueiro inimigo e posteriormente morto por Arjuna, representando o guerreiro desvirtuado ao mal; Kripa, guerreiro imortal designado professor dos príncipes no Mahabharata; Aswatthâman, outro imortal depois amaldiçoado por Krishna a errar por seis mil anos, acometido de hanseníase, como um detestado; Vikarna, Somadatti e outros que traduzem as forças seguidoras do egoísmo e da cegueira do instinto. (continua ) Paulo Gustavo

"Baghavad-Gîtâ" - Parte I



“BHAGAVAD-GÎT”

INTRODUÇÃO



Texto mítico de doutrina esotérica, escrito originalmente em sânscrito, entre os séculos II e V a.c., e crido como emanado diretamente de Sri Krishna – divindade glorificada pelos Vedas(Conjunto de textos sagrados) e considerada a maior expoente do conhecimento -, o “Bhagavad-Gîtâ” ( Sublime Canção ou Canção de Deus) é parte integrante do épico intitulado “Maabárata” ou “Mahabharata” (Epopéia hindu), o mais importante texto sagrado do hinduísmo, cuja autoria é atribuída ao imortal Vyâsa, o qual teria sido avô dos dois clãs envolvidos em combate, os Kuravas e Pandavas. Venerado como Escritura Sagrada pelos brâmanes(3), no contexto da religião hindu a obra é imensamente considerada também no budismo. A filosofia contida na Sublime Canção consiste no entendimento harmônico das doutrinas de Patanjali(4), Kapila(5) e dos Vedas, destinada ao homem desejoso de sua essência, que busca o Entendimento para alcançar a existência plena através de sua vitória na guerra entre o Eu Inferior e o Eu Superior. O “Bhagavad-Gîtâ” narra o diálogo entre Krishna e o arqueiro Arjuna, momentos antes da Batalha de Kurukshetra, cidade sob o domínio dos Kurus situada ao norte da Índia.
Na obra são transmitidos ensinamentos para a retomada e sustentação da realização espiritual, na trajetória humana de retorno à Unidade Divina, a compreensão de que o Um está presente em tudo.

O mito é a representação da batalha íntima e contínua que o Homem deve empreender para subjugar seus vícios e apegos da personalidade que lhe suprimem o foco essencial: Reconhecer-se como ser espiritual em jornada evolutiva para alcançar uma dimensão atemporal, através da reformulação interior direcionada pela prática da Virtude. O “Baghavad-Gîtâ” trata, pois, da emancipação humana através da reta-ação, escolha do Dharma, no mundo e estimula a reflexão a respeito do ser, fortalecendo os seus Pândavas para a aniquilação de seus Kuravas.