Olá !!

... este é um espaço de exercício da escrita, sobretudo. A escrita, na plenitude do momento que dita a sua forma: Prosa, verso; Ou que dita o seu gênero, o seu tamanho, elasticidade, duração ou a sua emergência. A escrita que traga, de algum lugar, qualquer coisa que insista em existir ...

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Abraço de Águia !


sábado, 25 de abril de 2009

Comprei a Jane Fonda.



Já estou na fase de falar "esse negócio" para as novidades virtuais. Do mesmo jeito que minha tia fala quando se refere a um aparelho de fax. Manda por "esse negócio aí pra mim, filho?". Antes eu falava até meio descolado Orkutch, Méssenger, Imeioul. Entrei no Twitter. E, na velocidade da luz, em meia hora eu obtive acesso ao universo dos beetlejuices cibernéticos, virtuais e quem sabe até quânticos ou sei lá mais o que.Aprendi o que é buytter. É um primeira-maozão de pessoas, a primeira vista. De perfis, vai. Você compra um perfil e o vende como em um pregão da Bolsa de Valores. Valem menos os mais óbvios, os normais. Os Souzas, Silvas,Nando,Leleca, Sabrina... desde que não seja a Sato, claro! Enfim, o povinho vale uma merreca. Os top's, uma verdadeira fortuna. Mas, por uma sorte do destino, eis que dentro das minhas humildes possibilidades de novatão, surge em impressionante oferta - que até me pareceu mercadoria de Puerto Stroesner-, nada mais , nada menos que a Jane. A Fonda, é claro. Não tive dúvidas. Duzentas pratas? Comprei a Jane Fonda e foda-se! Acabou com o meu crédito, mas já foi. Igual compra de celular:" Ah, eu mereço, né ?"





O problema é que a bichinha tá na prateleira. Encalhadaça. E eu nem sei da vida dela, mas, no meu twitter, valendo 441 pratinhas, ela tá encostada. É a vida!! Nem eu nem ela poderíamos, um dia, sonhar com essa situação. Ela no meu saldão. É Jane, tem dia que a noite é flórida... É a vida. Vendo uma Jane Fonda !! http://buytter.com/plogust

A CAUDA AZUL


Enquanto eu olhava o mar, sentado à margem e lutando com a brasa do meu cigarro que se consumia rápido e alheio à tonalidade romântica que eu tentava imprimir à cena, no meio do oceano percebi o mergulhar de uma enorme cauda, como um aceno magistral de um t gótico, com as extremidades encorpadas e cinza, o cinza próprio dos seres azuis marinhos.


Não tive tempo para transferir da mente ao corpo a reação surpreendida como uma pequena felicidade. Como se ergueu, emergiu. Pretendi fazer considerações sobre o surgimento, mas logo todas as ponderações possíveis se diluíram, laçadas pela surpresa – Que animal..., seria tão profundo o mar já naquele ponto que não me pareceu tão distante? Uma baleia que mais tarde se atolaria na areia ? – Esses pensamentos se esvaíram sem que eu os pudesse reter.


O sol recaía lentamente por trás de uma ilhota, mergulhando na nascente das ondas e o vento suspirava ao meu rosto, refrescando os meus cabelos. Vi meus pés e minhas unhas rachadas. Nenhum sentimento. Abandonei os pés e voltei-me ao mar.


A poucos metros um pescador levantou-se da areia em um salto. Retomou a vara fincada à margem e recolheu a linhada. Levei a mão às sobrancelhas para verificar o peixe rendido ao ar, entregue, sendo desenganchado. Com uma intimidade injustificada o pescador levantou seu peixe, arfante, em minha direção. Sem o que pensar, estendi-lhe exageradamente a mão, retribuindo-lhe um sorriso que eu não tinha. Temi por um instante a sua aproximação, talvez encorajado pelo meu gesto, mas ele plantou novamente a vara na areia e sentou-se, abrindo uma cerveja. Desviei o olhar antes que o homem consumasse o oferecimento de sua bebida e voltei-me para o mar.


Pensei em minha mãe. Embora metade do meu cérebro estivesse preocupada com o pescador, a outra se entregou a todos os passados, mesclando os sentimentos. Por um momento imaginei o lambari rendido comendo as suas cinzas e, agora, aquele senhor preste a fazer parte do, para mim lancinante, óbvio ciclo alimentar. Não. Talvez, preferi, de um só golpe poderia aquela baleia de cauda azul brilhante ter abocanhado todas as pequeninas partículas. Ou, mais dadivoso, tivessem a sorte de serem despejadas diretamente às bocas reluzentes de peixinhos mais dignos e corajosos.


Procurei o ponto onde há poucos meses estivemos todos, entre barcos simples e silenciosos, conduzidos por estranhos. Incólume. Nem sequer uma constante revoada de aves brancas sobre o local, uma simples faixa de sol destacada ou qualquer rastro de arco-íris a selar o ponto das cinzas. Afligi-me querendo outra vez a cauda talvez turquesa. Quis, definitivamente, lançar-lhe um olhar pedindo uma acrobacia, um mergulho, no ponto dos barcos, para enfeitá-lo e, ao mesmo tempo, desejei o peixe pendido do pescador. Saltei. Mas eles não mais estavam ali. Dei passos em direção aos metros que nos separavam mesmo constatando com o coração que haviam desaparecido ou mergulhado para dentro da vida. Repleta de casas, caminhos e anzóis. Impossível revê-los, o homem e o peixe. Olhei novamente os meus pés. E assim, com os dedos impressos nos olhos, passei a adentrar na lâmina espumante que vinha morrer na seara seca, até não mais vê-los. Ergui a cabeça e continuei caminhando como apenas quem vai, até sentir o sal molhado na boca.


Desejei beber a água. Bebi a água o quanto pude, sugando-a, voltado para o local das saudades com a certeza de que Deus me traria uma, uma partícula. Uma, era o que eu pedia, com o pensamento embotado de água e sal. Uma única cinza que se alojasse como bala no meu coração amargo e doce.


Sobre as pontas dos dedos senti o estômago pesado e a alma rompida. Mergulhei, tendo na mente a leveza da cauda azul, abocanhando todo o mar. Não havia saudade. Apenas a sua sede e fome. Em pensamento, o delicado gelo da cerveja do pescador eu também queria. Desejei abraçar o pescador e ser um peixe e todos os peixes que com suas bocas miúdas estiveram no banquete enfeitado de flores e refrescado pelas sombras dos barcos.


Onde está você, pescador? O mundo é tão imenso e eu não sei se você também mergulhou rumo ao infinito como a baleia e como eu. O mundo é tão grande... e é grande assim que, á medida que eu me aproximo, parece que o ponto adentra mais e mais em direção ao sol que agora é quase uma lembrança dourada. Longe..., já um adeus vermelho e misterioso.


Meus pés já não alcançavam o fundo sem que os meus cabelos emergissem a ponto de serem levados pela brisa das águas. As luzes das encostas começavam a salpicar. Luzes de casas ao entardecer. Pensei o quanto elas trazem assim, vistas do mar. E trazem tanto que, se detendo por alguns segundos em uma delas e depois fechando-se os olhos é possível ouvir o ruído esguichado da panela de pressão ao fogo, ver o meu entrar pequeno na cozinha branca com maçãs nos azulejos e ouvir o meu nome naquela voz ocupada e doce. Oh, meu Deus, o mar cheira a... carne com cebolas em tiras grossas, batatas inteiras cozidas com tomates, arroz com feijão fresquinho, ao alho... O mar cheira ao meu suor entrando em casa, com as bochechas vermelhas e os cabelos na testa. E como, Deus, o mar trás o gosto do rosto cansado que eu beijo e que se encaixa e beija o meu pescoço e depois, consertando o beijo, beija a minha face quente, pequena, redonda. É por isto que o mar é salgado.
Frio e quente é o mar. Igual àquelas mãos. Molhadas.Que eu retiro do meu rosto, por nada saber da vida, e que pronunciam o meu nome. É por isto que o mar é imenso. Como elas... Tão imenso que nem o meu coração poderia tê-lo inteiro. Enorme. Tão grandioso que além de ser maior que toda a terra deste mundo, é ele. O mar.


A cidade ressuscita e eu ainda quero a baleia negra, enfeitando com o seu mergulho, o local que me foge. Tudo é muito grande ! – gritei quando retornava – e eu aqui, ávido por estas luzes pequenas. Tão pequenas, secas e distantes que nem os meus olhos podem distinguir.


Molhei os cabelos gelados e duros e limpei as lágrimas, irrompidas do mar. A ardência que invadia incandescente fez-me apertar os olhos com os dedos dobrados e, talvez fosse um reflexo da noite, um mistério do mar ou um desses pensamentos que, feito vertigem, saltam à realidade, bem ali, ao centro do ponto das cinzas, airado como miragem, um arco-íris e, no intervalo de outro aperto dos olhos, a enorme cauda dourada e azul empinou. Parou no ar, esperando o meu juízo, e mergulhou sob a mais linda lua que eu já vi em toda a minha vida.

Plogust

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Menino Mosqueteiro


Menino Mosqueteiro

Eram meninos. Menininhos e menininhas, melhor dizendo. Pequenos, alegres e tristes, tímidos. Endiabrados, gulosos, sonâmbulos e estridentes ao sorrir e falar. Alérgicos, ridículos, amados e meninos. Iguais a esses que se encontram crescendo com graça pela vida e que estão sempre correndo, caindo, encantando e ensinando esperança.


Mas estes – como se houvesse diferença entre tais criaturas – eram tão meninos que até as meninas eram meninos, pois, naquela idade e naqueles mundos dentro daqueles olhinhos, eles permaneciam universais. Olhavam, uns aos outros, e encontravam a sua nação. A nação dos meninos. Nação de todos os hinos, todas as cores e nenhuma lei.


Revendo a fotografia encardida, salta à vista os traços deles. Traços cor de verde novo, como os jovens brotos orvalhados de capim, ao raiar do dia. Ao aproximá-la, saltam também os seus olhos – verdadeiras ameixas vivas e incrustadas naquelas vinte e poucas ou trinta faces; As bocas que engolem – no momento da foto – o riso quente da alma menina; As mãos, mãozinhas, que se prostram com a seriedade de um soldadinho de chumbo ao lado do corpo menino. Da foto, gritam em algazarra e,docemente, esticam as suas pernas, “pernicas”, que só sabem correr da surra, dos monstros, dos sapos, tartarugas e de todas as coisas boas da vida. Pernas que se cruzam ao chão sem cerimônia; Que se levantam e andam, correm e disparam rumo à vida e aos caminhos antes traçados somente por Deus.

É uma bela fotografia, sem dúvida. Vinte e poucas ou trinta promessas; Vinte e poucos ou trinta milhões de esperanças. São meninos vestidos de sonhos, pequenos príncipes e princesas que ainda têm em redomas as suas rosas, que ainda não partiram e aos quais a vida é um enorme pirulito. É lindo vê-los ali, lambuzados de vida e correndo, um atrás do outro, sobre o pirulito colorido.


Eu, eu olho a fotografia embaralhada, encontro aquele exato menino mosqueteiro e vou ao espelho. Pergunto aos olhos que também procuram o menino dentro dos meus e encontro uma menina triste. Ela é castanha, pequenina e sempre esteve ali. Ela me olha e se vê no centro do meu olho, e parte para buscar a menina do seu, me deixando só. No canto, as lágrimas acabam me convencendo de que o menino naufraga em seu barquinho em algum lugar bem atrás do meu olho, e eu sinto que ele luta. Por um momento o vejo com seus olhos de ameixa, aflito, apoiado em suas perninhas de barata, suando, suando muito em cima de seu barco de papel para retirar a água que inunda imperdoável, dura como pedra e louca para aniquilá-lo. Encontrei-o ! Não são lágrimas o que escorre sobre esta face desconhecida, são as águas do barco do menino que luta dentro dos meus olhos. Eu ajoelho diante do espelho e só posso chamá-lo de meu filho, meu amado menino mosqueteiro.

Retorno à fotografia encardida. Um, dois, três, quatro... Ali está ele ! Ali, bem em cima e ao canto esquerdo, com sua pose de Dom Quixote e pensando em seu Rocinante muito mais que em sua Dulcinéia. O meu menino mosqueteiro ! Sem dúvida é ele. “ Salta daí, menino! Que saudade...!” E ele salta. Eu beijo a fotografia. Ele devolve o beijo, dá uma piscadela inconfundível e galopa para o meu coração.


A todos os meninos e meninas mosqueteiros. Plogust