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Abraço de Águia !


sábado, 15 de agosto de 2009

Impressões

Incrível é a sensação de querer te dar a minha vida em um filme, embrulhada  por “Eu sei que vou te amar”, no dolorido agudo  do Caetano, numa tarde de sábado manso e quente, com uma pequena vista da rua: a árvore, a flor vermelha e amarela do canto da jardineira. Mas é um momento para se deliciar por uma única vez, a que surpreende e associa pelas razões do coração. As repetições,como garças desesperadas, trazem somente o remoer. A primeira não.A primeira, criadora e despertar desse sentimento gostoso que me traz ás letras, a primeira sensação é plena, começa no terminar da alegria. Paulo Gustavo

Baghavad Gita - Capítulo X

AUM – TAT – SAT, o tríplice nome de Brama, a tríplice designação do Absoluto. A primeira, a designar o Poder Supremo ( Pai, filho e Espírito Santo), a ser pronunciada antes de qualquer prática religiosa e das esmolas. TAT – indicativa do ser em Deus, pronunciada em sacrifícios, obras de caridade para evocar a idéia de Unidade, e, SAT, que significa Verdade e Bondade, que deve ser pronunciada na prática das boas ações ou quando se percebe uma boa qualidade. ASAT é a palavra que representa tudo aquilo que é praticado sem fé e sem boa vontade e que não tem valor algum.

O último capítulo do Baghavad Gita afirma que é através da renúncia sáttwica – desinteressada e em adoração a Deus -, em relação a tudo o que é característico do amor de si próprio como quem, alcança a União com a Imortalidade.

Baghavad Gita - Capítulo IX

Ao abordar a Fé, a Sublime Canção afirma ser a Fé o movimento próprio do ser lançado à sua Salvação, sendo manifestada pelo chamado “Culto Divino ou Religioso”.
Arjuna aprende que a Fé compreende três tipos, que regulam-se de acordo com as três gunas ( sattwa, rajas e tamas). Deste modo, a Fé tem o seu aspecto ideal de pureza, paixão e tenebrosidade, seus três opostos viscerais. Teremos, portanto, Fé Sáttwica, Rajásica e Tamásica, que refletem, por sua vez, os homens que as detém.

O homem detentor da Fé Sáttwica é aquele voltado para Entidades Espirituais elevadas, sendo que os mais adiantados só venerem ao Espírito Uno e Eterno; os Rajásicos veneram heróis e outros seres poderosos e os Tamasicos, elevam seus cultos a espíritos inferiores, demônios e espectros.
Ainda pairando sobre o campo de batalha, tendo à vista os apelos da materialidade de um lado ( Kuravas) e os desejos de retomada do controle nos olhos dos guerreiros Pandavas – o Conhecimento, a investida do produto da intelectualidade aplicada através do conhecimento do Eterno, o Homem pronto para lutar, inteiro de si, de outro - , bebendo todo o conhecimento transmitido, dentre as inúmeras distinções que faz a cerca das personalidades, Krishna afirma a Arjuna que não apenas os alimentos, mas os homens têm estes caráteres. Enquanto um homem sáttwico preferem alimentos naturais de puros, os rajásicos aos picantes e salgados e, os tamásicos, aos alimentos rançoso ou estragado; Quanto a qualidade das oferendas, o sáttwico prefere aquelas prescritas nas Escrituras Sagradas e as faz sem esperar nada em troca. Os rajásicos, por sua vez, oferece esperando vantagem e com ostentação e, o tamásico, oferece á Divindade com fé mas sem devoção, pensamento ou reverência; Relacionando as espécies de penitência, continua dizendo que corporal é a penitência que respeita os seres celestes, os homens santos, os iluminados, os Mestres e guias do conhecimento, os sábios, enfim. Penitência Lingual é a prece circunspecta em verdade e, penitência mental aquela que consiste na pureza da alma, discrição, no devotamento.

Tais são, pois, as três espécies de penitência apregoadas no Baghavad-Gita. O Homem sáttwico as pratica como descrito; o homem rajásico as pratica esperando compensação ou vantagem,, incerta e inconstante e, por sua vez, o homem tamásico as pratica para atormentar-se a si, simplesmente, ou aos outros, com um fim insensato.

Faz o paralelo, ainda, com a caridade, o que nos permite traçar estes paralelos para situarmos nossas próprias atitudes e modos de pensar.

Baghavad Gita - Capítulo VIII

“ O CAMPO E O CONHECEDOR DO CAMPO”
A respeito do que seja matéria e Espírito, a obra ensina que o campo é o que chamamos de corpo e o conhecedor do campo o seu criador.Além disso, que o corpo é um microcosmos ou um universo em miniatura através do qual o espírito de manifesta e utiliza.
Sobre a natureza da matéria, sua organização, propriedades, origem e transmutações também trata Krishna,além de discorrer sobre o Espírito.
“Com o nome de Natureza Material designam-se: Os elementos materiais, a consciência de personalidade, o intelecto, a força vital, os centros dos sentidos, a mente, os órgãos dos sentidos”
“O amor e ódio, o prazer e a dor, a multiplicidade, sensibilidade e coesão.”
“A Sabedoria Espiritual consiste em: modéstia, sinceridade, inocência, paciência, retidão, respeito para com os superiores, castidade, constância, domínio de si próprio”
Como Objeto do Conhecimento que confere a Imortalidade, é ensinado que este é a Suprema Divindade (Parabrahm), o qual não pode ser chamado nem de Ser , nem de Não-ser, pois está dentro e fora de todos os seres; presente em todos os seres como as suas almas ( atmas), que parece mas não é fragmentado.
“ O Atma (Deus) é a Luz-das-luzes. Ele é o Conhecimento, O Conhecedor e o Conhecido. Mora nos corações de todos”.
Recebedor das impressões da matéria, o espírito tem determinada a sua reencarnação conforme o apego a estas impressões e qualidades.
A libertação espiritual se dá ao homem quando este alcança o conhecimento da divindade em si mesmo, tornando-se consciente do Espírito Universal ou Supremo.
Sendo a representação do universo em pequena escala, um microcosmo, o Homem necessita desta consciência divina para entender e distinguir as influências espirituais, já que sendo um ser espiritual é influenciado por outros seres inferiores e superiores.
“ Prossegue Krishna, o Verbo Interno:
Vou dar-te os sinais característicos dos homens que andam pelo caminho que conduz à Vida Divina: Intrepidez,pureza de coração, perseverança em busca da Sabedoria, caridade, abnegação, domínio de sí mesmo, devoção, religiosidade, austeridade, retidão.

Abstenção de más ações, veracidade, mansidão,renúncia, equanimidade, boa vontade, amor e compaixão para com todos os seres,ausência do desejo de matar, ânimo tranqüilo, modéstia, discrição, firmeza.
Fortaleza, paciência, constância, castidade, humildade, indulgência”. (16.1.2.3)
Ao passo que, dentre as características do homem que caminha rumo aos demônios, pela escolha da natureza diabólica ou má, estão a cólera, a hipocrisia, o orgulho, a arrogância, a presunção, a rudeza e a ignorância.

O Baghavad-Gita vaticina que para os andarilhos de tal caminho, “ são por Mim arrojados em demoníacas matrizes”, para as quais retornam à medida de suas incessantes reencarnações em mundos de expiações como o planeta terra.

A luxúria, a ira e a avareza são as três portas para estes infernos. Deve-se pois afastarmo-nos delas se quisermos alcançar a Meta Suprema e, para isto, cumpre entender e conduzir a vida material conforme as Escrituras Sagradas, pois são os receptáculos dos ensinamentos do Espírito Universal.

Baghavad Gita - Capítulo VII

As questões de Arjuna sobre o que é o Ser Eterno ou o Espírito, bem como sobre a Sua natureza, além de o que seja karma, seres imortais, Seres Divinos; quem é o Ser Supremo e de que modo Ele reside no corpo e domo pode o Ser Supremo ser lembrado na ocasião da morte, por aqueles que possuem o controle sobre suas mentes, são respondidas.
O Senhor Krishna disse: “ O eterno e imutável Espírito do Ser Supremo é chamado de Ser Supremo ou o Espírito. O poder inerente da cognição, e desejo do Ser Eterno, é chamado de natureza ou Ser Eterno. O poder criativo ou a essência da ação do Ser Eterno que causa a manifestação das entidades vivas é chamado de karma “.
O corpo sutil, ou alma individual, traz consigo seis faculdades sensórias, intelecto, ego, além de outras cinco forças vitais, os bioimpulsos (Força vital, Prana). A alma individual fica contida no corpo material, sustentando-o vivo através das funções exercidas pelos órgãos.

Diferentes expansões do Ser Supremo são também chamadas de Seres Divinos. O Ser Supremo também mora dentro dos corpos físicos como o Controlador Divino (Ishvara) (8.04).
Além destes aspectos, a obra explica a teoria da reencarnação, pela qual cada ser humano, individualmente, experimenta e suporta as conseqüências da Lei da Causa e Efeito no decorrer das sucessivas encarnações no mundo material, considerado de expiação.Além disso, explica que alcança-se a Salvação pela meditação em Deus na hora da morte.

“Portanto, sempre lembre-se de Mim, e faça a suas obrigações. Com certeza, você irá alcançar-Me, se a sua mente, e o seu intelecto, estiverem sempre focados em Mim (8.07)”.

“Eu sou facilmente alcançado, Ó Arjuna, por aquele que é sempre leal, devotado, e que sempre pensa em Mim, e cuja mente não vai para outro lugar (8.14). “

“Após alcançar-Me, as grandes almas não mais voltam a nascer neste transitório mundo miserável, porque elas alcançaram a mais elevada perfeição (8.15).
A Criação é Cíclica
“Aquele que conhecer que a duração da criação é de 4.32 bilhões de anos, e que a duração da destruição é, também, de 4.32 bilhões de anos, eles saberão dos ciclos de criação e destruição (8.17).”
Krishna explica, então, que um ciclo criativo completo é de 8.64 bilhões de anos solares, considerando o período da aniquilação dos planetas e seres inferiores e a nova criação, o que se dá sucessivamente através da eternidade.Embora aqueles que tenham alcançado a Morada Suprema, deixam de se sujeitarem às leis da reencarnação, da destruição e crianção.

Complementa os ensinamentos, Krishna, afirmando que tais ensinamentos para a escolha do Caminho até a Suprema Morada só pode ser comunicada a quem tenha inabalável fé, esperança e o divino amor, pois trata-se de verdadeira ciência.
“Os que seguem as prescrições dos Vedas , oferecendo muitos sacrifícios, bebendo o Soma sagrado ( bebida dos Brâmanes) e purificando-se dos pecados, e imploram o caminho do céu, serão admitidos no céu de Indra ( o mais alto dos céus) e ali obterão o alimento celeste e gozarão os prazeres dos deuses” (9.20)

Deus é, pois, o “ Tudo em tudo”, o verdadeiro fundamento e a verdadeira essência imutável a se manifestar de modos diferentes, o mais Perfeito Ser. E a Sua forma ou personalidade é a soma de tudo o que existe.
“Eu, ó príncipe! Sou o Espírito que reside na consciência de todos os seres, e cujo reflexo é conhecido por todos como o ‘EU’ ( ou Ego). Eu sou o princípio, p meio e o fim de todas as coisas” (10.20)
O capítulo XII esclarece que a religião verdadeira é aquela que consista na União da alma do ser individual com Deus.O que se dá através da renúncia aos frutos da própria obra e da busca incessante do Caminho que conduz à Divindade.
“ Amo aquele que é sempre constante, afável e piedoso, manso de coração e de firme vontade, e cujos pensamentos em Mim se concentram”( 12.14)

Baghavad Gita - Capítulo VI

“ O Discernimento Espiritual é a Iluminação”

Nos capítulos VII, VIII, IX, IIX, IIIX, X, XI e XII do Baghavad-Gîtâ é exposta a doutrina de Krishna e a forma de praticar a Raja Yoga, a modalidade que se utiliza do domínio interno das atividades mentais. Portanto, voltada para quem tem tendência à meditação.

Trata do conhecimento espiritual traduzido no despertar da Consciência Divina no ser humano. Sendo Deus Amor, a Sua consciência é obtida através da força do Amor Supremo.

“ Escuta as minhas palavras, ó Arjuna, para saberes como verdadeiramente e sem dúvida Me conhecerás, se fixares em Mim a tua mente e em Mim descansares o teu coração.

Eu te instruirei na sabedoria maravilhosa dos homens e dos deuses, sem reserva nem restrição; aprendendo estes ensinos, adquirirás o saber perfeito, e saberás tudo o que pode ser sabido por um homem”.

As explicações ao guerreiro dão conta de que o Ser Supremo tem duas naturezas: a Natureza Material, composta de oito formas elementais: (1) Terra; (2) àgua; (3) fogo; (4) ar; (5) éter; (6) mente; (7) razão e (8) Ego ou consciência individual, matrizes de toda a criação, além da sua Natureza Espiritual que é o Princípio que vivifica e sustenta o Universo. O Princípio da criação e da dissolução do Universo.

“ Eu sou o líquido da água; Eu sou a luz do sol e da lua; Eu sou a sílaba sagrada AUM; Eu sou o cântico dos livros sagrados; Eu sou a harmonia dos sons que vibram no éter; Eu sou a virilidade dos homens.

AUM é o símbolo do Ser Supremo. A, simbiliza o Pai; U, o Filho ou Salvador e, M, o Espírito Santo ou o Renovador, Destruidor.

“ As três qualidades da minha natureza: a harmonia, a atividade e a inatividade ( Sattva, Raja e Tamas), as quais se manifestam como a luz da verdade, o desejo das paixões e as trevas da ignorância, em Mim têm o princípio e estão em Mim, mas eu não dependo delas” O que indica que Deus não se limita, mas é maior do que a natureza. Esta não é Deus, mas uma manifestação da força Divina.

Todos os homens chegarão a Deus, nos diz o Baghavad-Gîtâ. Mas o sábio que se entrega completamente será como o próprio Espírito Eterno, que é o seu alvo final. Resta, pois, lançar suas flechas sobre os Kuravas!

Além dos sábios, outros “por falta de conhecimento” vão a “outros deuses. Todos acham o que procuram, de acordo com a sua natureza.

“Hás de saber, entretanto, ó Arjuna, que a verdade, apesar de ser desconhecida pelos fanáticos e intolerantes, é esta: Que, ainda que os homens adorem vários deuses e várias imagens, e tenham diferentes concepções da deidade adorada, e até pareçam as suas idéias ser contraditórias entre si, toda a sua fé se inspira em Mim.

A sua fé em seus deuses e imagens não é senão o alvorecer da fé em Mim; adorando essas formas e concepções, eles querem adorar a Mim, sem o saberem. E, em verdade te digo, eu aceito e recompenso essa fé e adoração, uma vez que seja honesta e consenciosa. Esses homens fazem o melhor que podem, conforme o seu estado de desenvolvimento, e receberão os benefícios que procuram, conforme a sua fé; todo benefício, porém, emana de Mim. Tal é o meu Amor, a minha Razão e a minha Justiça.

Mas lembra-te, ó príncipe, que as recompensas desses desejos momentâneos, finitos, perecíveis, são igualmente de pouca duração. Os homens que adoram os deuses inferiores, as caricaturas e sombras imperfeitas da Divindade, vão aos mundos de sombra, governados por esses deuses-sombras. Mas aqueles que são sábios e capazes de Me conhecer como Sou, Um e Tudo, vem a Mim, ao meu mundo de Realidade, onde não há sombras, onde tudo é Real, até mesmo a chama que faz a sombra desaparecer”. O Absoluto invisível é a base do mundo visível.

O verso 7.24 parece contradizer a interpretação comum de que Deus encarna ( versos 4.06-08 e 9.11). O Ser Supremo é imanifesto, e portanto, jamais torna-se manifesto. O Absoluto não encarna. Jamais se afasta da sua “Morada Suprema”. É o Seu intelecto que faz a criação, manutenção,encarnação e destruição através Seu Poder.

Vejamos a invocação de paz do Ishopanishad: "O invisível é o Infinito; o visível também é infinito. Do Infinito, os universos finitos se manifestam. O Infinito (Absoluto) permanece infinito ou imutável, apesar dos universos finitos saírem dele". Por desconhecerem a natureza transcendental e imperecível de Deus, alguns imaginam que o Senhor se encarne. O que não ocorre. Segundo o hinduísmo, Deus manifesta-Se através da Sua Potência Divina.

A partir deste entendimento, poderíamos dizer que o Ser transcendental está muito distante à concepção humana e, por isto, podemos escolher qualquer forma ou modo para adorar a Deus.

“ Todos os seres neste mundo estão na absoluta ignorância, devido à ilusão dos pares de opostos, dos gostos e desgostos, Ó Arjuna. Mas as pessoas purificadas pelas ações não egoístas, cujo karma há terminado, torna-se livre da ilusão do par de opostos, e adora-Me com firme resolução” (7.27-28)
Apenas ao término do karma é que se consegue entender e adorar a natureza divina.
“O CAMINHO DA RENÚNCIA DAS OBRAS”

Todo o bem emana do Uno. O homem material, Dhrystarashtra, não pode realizar qualquer coisa boa ou santa. A conduta sábia precede à sabedoria. Ela determina o agir não por si mesmo, mas na condição de instrumento de Deus.

“Meditando sobre o Altíssimo, que é o Eu Real, unindo-se a Ele, conhecendo-O e amando-O, passa o sábio aos estados superiores, aos planos mais altos, dos quais não volta mais para os degraus inferiores da existência. O conhecimento da Verdade consumiu todos os seus pecados e erros, e ele entra no reino da Boa-aventurança.”

O caminho do Conhecimento se funde ao da Reta Ação que, neste estágio, não pode ser considerada em seu sentido vulgar, pois já não é mera ação mas, sim, sabedoria aplicada. Neste ponto de entendimento não existe mais o livre-arbítrio pois que este “ só existe à medida da ignorância do homem.”
“ A César o que é de César”, nas palavras de Jesus, O Cristo, e, no Baghavad-Gîtâ: “ O verdadeiro Yogi, deixando os objetos exteriores influenciar só o seu exterior e não a sua alma, abre vistas interiores à Luz Eterna e une a sua respiração externa com a interna, em ritmo de harmonia.

Todos os seus sentidos obedecem à vontade Espiritual, todo o seu pensar tem as raízes em Deus; nada para si deseja, nada receia; a ele não tem acesso nem ódio nem ira: a sua salvação está realizada.

Ele Me conhece como Sou, sabe que Me agrada o domínio de si mesmo, reconhece-Me como Senhor do Universo, é amante de todas as almas, e une-se comigo. Pois Eu sou o amparo de todos os que em Mim se refugiam.”

A renúncia surge após o autoconhecimento como meta da vida. Este, somado à ação desapegada são necessários apenas para atingir a meta pretendida. A renúncia suprema é a junção de todas as ações e posses - incluindo corpo, mente e pensamento – a serviço da Vontade Divina.

“O CAMINHO DA MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO DO EU INFERIOR”

Aqui são afirmados os métodos para se realizar a união com Deus: a santificação interior e a meditação.

“ 1. O Verbo Divino:
“Ouve as minhas palavras, ó Arjuna! Quem cumpre honestamente o seu dever da melhor maneira que lhe é possível, sem nutrir desejos de ser recompensado é, ao mesmo tempo, um asceta e um homem de ação; não aquele que simplesmente prescinde de ritos e sacrifícios.”


Para subjugar o Eu Inferior ao Eu Superior é preciso se elevar até o conhecimento desinteressado de que “se a ação não é acompanhada pelo conhecimento inteligente da renúncia dos resultados, não merece o nome de Reta Ação.” O sacrifício dos resultados tem que ser consciente. Isto confere mérito ao peregrino, tornando-o yogi perfeito.

Conta Krishna que este é um processo: Após atingir a sabedoria pelo conhecimento da Reta Ação, libertado-se do apego às obras, a Sua Lei prevê um novo grau de ensinamentos, calcados nos métodos da meditação e da santificação. A “calma meditação e a paz serena da mente” são os melhores meios para se chegar à Verdade.

Refere-se ao modo como o yogi deve proceder em seu exercício de dominação da mente e do corpo, utilizando-se das alegorias de um pano (castidade), do couro de antílope (delicadeza de sentimento) e o repouso sobre verbenas (erva “Kusha”), que significa firmeza. Reunindo assim as qualidades de ser casto, delicado e firme.

Combater os Kuravas é somente o primeiro passo. Agir por recompensa é o que aprisiona o homem à Lei de Causa e Efeito. É preciso superar o sistema de intercâmbio dos chamados “Gunas”, da filosofia Sankhya. O Baghavad-Gîtâ ensina que devemos nos afastar dos excessos mundanos.

Os três gunas são as tendências instintivas que determinam um comportamento, estado mental ou fenômeno. As fontes de todas as características associadas ao Homem. Qualidades da matéria. A matéria da qual o universo é feito, em todos os seus estados, resulta da combinação de três qualidades: Sattva (ritmo), Rajas (movimento) e Tamas (inércia).

Essa idéia é assimilada à obra dentro da concepção do Eu Único. Tais estados ou gunas têm princípio no Eterno, “ ainda que Eu não esteja neles, eles estão em Mim.” E explica, a Divindade, ao discípulo Arjuna, que os indivíduos se iludem pelos estados compostos das três qualidades e por este motivo é que não O conhecem. O Supremo está além das gunas, imutável. “ Porque esta divina ilusão (mâyã) Minha, constituída pelos gunas, é muito difícil de superar. Contudo, aqueles que se dedicam exclusivamente a Mim, a superam.”

Sattva: O princípio da inteligência superior. É a qualidade positiva da pureza, do altruísmo e da consciência lúcida. É traduzida por equilíbrio, harmonia e pureza. Alguém com inclinações sattvicas tem sua conduta e estado mental positivos e prima pela coerência.

Rajas: O princípio da energia mental racional, da turbulência, da emoção, da impulsividade. É o movimento que cria desejos e medos que conduzem à atividade. Tendências rajásicas significam dinamismo, egocentrismo, vaidade, ânsia de poder, riqueza e prestígio.

Tamas: O princípio da obscuridade, do negativismo, da densidade, da letargia, inércia, ignorância e da resistência. A qualidade tamásica indica alguém com um estado mental auto-destrutivo, caótico ou embotado; que se dedica à destruição, ao crime ou a atividades imorais, ou que tem um comportamento preguiçoso, de pouca ambição, passividade e inconsciência, vivendo de forma inútil e grosseira.

Sattva é a qualidade mais adequada à mente. Rajas e Tamas representam impurezas no plano mental e enfraquecem o poder de percepção e o discernimento espiritual.

Baghavad Gita - Capítulo V

“ O CUMPRIMENTO DA AÇÃO SEM EGOÍSMO”

Krishna esclarece quanto à diferença entre a ação e o conhecimento. A ação é desvalida perante o Eterno quando motivada pelo Eu Inferior em socorro das necessidades pessoais. Aniquilados os motivos egoístas a ação precisa ser guiada pela Vontade Divina, convertendo-se o homem a um instrumento de Deus, sem esperar retribuições. Para isto: “ Os sentidos (Kâmas) são grandes e poderosos; porém, maior e mais poderosa é a mente; maior do que esta é a Razão, e o mais forte é o Eu Real, a Luz da Divindade” ( BG.42) Referindo-se Manas, Budhi e Atma, respectivamente.

O conhecimento é superior à ação. Pois ele possibilita a dominação dos objetos dos sentidos ao ponto em que a prática da reta ação, ou o cumprimento do serviço da Vontade Divina, se torne naturalmente altruísta, porque o caminho à Luz é o reto cumprimento do “dever-ser”.

A luxúria, que é o desejo egoísta e passional pelos prazeres materiais, produto da paixão, e que se transforma em ira quando não satisfeita, é um “grande demônio”, considerada a origem de todo o pecado, como informa a Divindade, pois retira o peregrino do caminho da Luz. Ela é, desta forma, inimiga do autoconhecimento, tendo um poder de aniquilação contra o outro. Por isto, o controle dos sentidos é imprescindível para matar os apelos materiais, que destroem a auto-realização.

“ O CONHECIMENTO ESPIRITUAL NO CAMINHO DA RENÚNCIA”

O ensinamento do capítulo anterior é chamado Karma-yoga, e foi declarado por Krishna como a suprema ciência secreta da reta-ação.

“Já na mais remota antiguidade dei esta doutrina da união com o Eu Divino a Vivasvat. Ele a ensinou a Manu, e este a transmitiu a Ikshvâku, o fundador da dinastia solar.”(BG,IV,1)

Vivasvat é a Mente Divina primordial, o Sol Espiritual no princípio do universo; Manu vem do sânscrito “man”, pensar que é relacionado ao Filho do Sol e Pai da raça humana. Krishna diz ainda que esta doutrina era conhecida dos Reis Sábios ou Patriarcas, os Rishis.

“Escuta este mistério. Eu sou superior ao nascimento; sou inato e eterno, sou o Senhor de todas as criaturas, pois tudo emana de Mim: Mas também nasço, gerado por meu próprio Poder.”(BG,IV,6)

Diferenciando a ação desapegada (reta ação), a ação desapegada (inação) e a má ação, Arjuna é orientado de que o Sábio é, pois, aquele cujas obras são “livres dos vínculos de esperanças egoístas”. Aquele que renunciou “ ao fruto de suas ações” e por isso é feliz e confia “ na força divina do seu interior”, a qual ele deixa agir por si.

O necessário ao homem, antes que o deus ou a sua idéia, é a sinceridade da sua determinação nobre de buscar. Assim, é dito que “ Todas as formas religiosas, embora com denominações diferentes, a Mim os conduzem.”

Uma antiga teoria metafísica indiana afirma que todas as religiões confluem à Religião Única, sendo cada qual uma expressão Desta. Á medida que de tempos em tempos a humanidade se encontra sufocada pela decadência do Dharma (justiça; reto agir) e a predominância do Adharma (injustiça; torto agir), o que é demonstrado pelo comportamento moral e espiritual dos seres, o Supremo se manifesta no corpo de um Avatar ( Buda, Krishna, Maomé e, para algumas interpretações, Cristo), com a missão de resgatar a humanidade para o caminho da Verdade, protegendo os bons, mudar os pecadores e restabelecer a ordem ou Dharma. Assim, o Ser Eterno é Espírito e corpo; divindade e humano.

As escolhas da humanidade produzem desvirtuados e malfeitores que contaminam e fazem fenecer a ordem do mundo. Mas a Compaixão Divina encarna-se para restabelecer o equilíbrio.

Em paralelo com o cristianismo, é fácil observar que este encontrou solo fértil no período histórico no qual o Império Romano encontrava-se imerso na iniqüidade e na corrupção.

A busca pelo conhecimento da Verdade conduzirá cada homem “pelo mar dos erros”. Não há, pois, caminho errado, erro indesculpável ou condenação ao esquecimento de Deus porque o homem detém os instrumentos de sua salvação. A oração e a devoção são formas de reconhecimento da magnitude de Deus e os meios pelos quais nos aproximamos do Imutável Senhor.

“De Mim procedem as quatro castas”, explica Krishna se referindo às classes da atividade humana, baseada na vocação e aptidões: Os Brâmanes (sábios ou sacerdotes), os Kshattriyas (guerreiros), os Vaísyas comerciantes) e os Sudras (operários), as quais são incompreendidas pelo Ocidente e pelo hindu moderno.

Vejamos que Galeno ( 131-201 d.C.), médico e filósofo grego, classificou os temperamentos humanos em quatro espécies: Coléricos, sanguíneos, fleumáticos e biliosos. Também, os biotipos característicos da psicologia contemporânea, através das quais descobrimos nossas vocações para as artes e profissões.

A natureza humana é Uma, porque emanada da Unidade, segundo a filosofia hindu, se diferenciando pelas características que se somam no processo reencarnatório de evolução. Assim, enquanto alguns são vocacionados ao altruísmo e à própria mística (Brâmanes), outros o são à Justiça (kshattriyas). Ao passo que existem aqueles naturalmente inclinados ao comércio, que operam na dimensão dos objetos, os Vaísyas; Há os homens que se identificam com as artes menores que são os operários ou Sudras. Os sem castas, segundo o hinduísmo, são os considerados marginais. Portanto, esta divisão de castas nasce da leitura hindu da natureza humana que, hoje, deturpada, transformou-se em base ignominiosa à separatividade e ao preconceito, pois que voltada à letra morta e não ao seu essencial conteúdo, segundo este ensinamento.

O Karma deve ser realizado visando causas e ganhos pessoais justos. Confirmando que até mesmo um sábio confunde-se sobre o que é ação e o que é inação, o Baghavad-Gîtâ nos explica, claramente, o que é ação. Este conhecimento é o que nos libera do “mal do nascimento e da morte”.

Por ser de difícil compreensão a verdadeira natureza da ação, primeiro deve-se conhecer a natureza da ação apegada, a natureza da ação desapegada, e, a natureza da ação proibida.

A ação apegada é a conduta ou o trabalho egoísta, realizada no modo da paixão em atendimento às necessidades apenas dos Kuravas. Este tipo de ação produz o aprisionamento ao círculo kármico, o que conduz o ser ao ciclo de reencarnação.

A ação desapegada,ao contrário da primeira, é a conduta ou trabalho altruísta, realizada dentro da bondade em atendimento às necessidades do próximo e da falange dos Pândavas. Esta ação conduz à salvação. A ação desapegada é considerada inação pois, do ponto de vista kármico, não existe ação.É só o Bem. Não tem em si a força de reação kármica. É uma via de mão-única para Deus. Apenas eleva o praticante à Unidade do Espírito Eterno.
A ação proibida é aquela prejudicial ao próximo, à sociedade e para o seu próprio praticante. É realizada no modo da ignorância e, como não poderia deixar de ser, ativa a reação kármica gerando desgraça.

Deste modo, a reta ação (Karma-Yogi) não está sujeita ás Leis Kármicas ou de Causa e Efeito. “Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, é uma pessoa sábia. Tal pessoa é um yogi e possui tudo por completo (4.18).”

Baghavad Gita - Capítulo IV

“ A VERDADEIRA NATUREZA DO ESPÍRITO”

“... Esta fraqueza, indigna de um homem, faz-te infeliz, pois te fecha as portas do céu”, diz Krishna cheio de amor, piedade e compaixão, para o confuso Arjuna reputado pela divindade como “ vencedor de inimigos”.

Mas Arjuna está , a seu modo, cego, eis que confuso; sem decidir-se, pois tem orgulho e piedade pelos seus vícios, aos quais ainda nutre respeito e apegos. Julga-se incapaz de lutar contra Bhishma e Drôna, que juntos representam uma aterradora e exímia força na arte da guerra ( Drôna é seu antigo professor das artes militares que luta ao lado dos Kuravas).

“Luta contra os Kuravas” – incita Krishna, pois sabe que vencer esta batalha é o modo para alcançar o Caminho da Luz. E instrui seu amigo sobre a natureza e a eternidade do Espírito que segue através de reencarnações (Palingenesia, do grego “Palin”, novo; “Genesis”, nascimento), utilizando-se de vários corpos durante a jornada de evolução.

Mais que isto, afirma: ” Sabe, ó príncipe Pându, que nunca houve tempo em que não existíssemos Eu ou tu, ou qualquer destes príncipes da terra; igualmente, nunca virá tempo em que algum de nós deixe de existir”, ensinando sobre a eternidade do verdadeiro ser que independe de seu corpo pois que é a expressão material do Uno Eterno.

Garante que, pelas faculdades mentais, os sentidos conferem “o sentimento do calor e do frio, do prazer e da dor. Mas estas mudanças vêm e vão, porque pertencem ao que é temporário, impermanente, inconstante. Suporta-as com equanimidade, valentia e paciência, ó príncipe! O homem que não se deixa mais atormentar por essas coisas, - que se conserva firme e inabalável no meio do prazer e da dor, - que possui a “verdadeira igualdade de ânimo: esse, crê-me, entrou no caminho que conduz à imortalidade.

Aquilo que é irreal, ilusório, não tem em si o Ser Real, não existe na realidade, e sim só na ilusão; e aquilo que é o Ser Real, nunca cessa de ser (...)” O corpo é transitório, enquanto o Ser é Eterno.

Ensina, pois, o Condutor dos corpos, como se obter o conhecimento para a condução dentro do caminho da imortalidade e da liberdade espiritual: Pela Yoga (União), como doutrina filosófica e prática da meditação, e através da escolha da reta ação nascida do reto pensar, que compreende a tomada da ação sob a indiferença quanto ao seu resultado, desprendida e acima das ilusões. O fazer pelo dever.