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sábado, 15 de agosto de 2009

Baghavad Gita - Capítulo V

“ O CUMPRIMENTO DA AÇÃO SEM EGOÍSMO”

Krishna esclarece quanto à diferença entre a ação e o conhecimento. A ação é desvalida perante o Eterno quando motivada pelo Eu Inferior em socorro das necessidades pessoais. Aniquilados os motivos egoístas a ação precisa ser guiada pela Vontade Divina, convertendo-se o homem a um instrumento de Deus, sem esperar retribuições. Para isto: “ Os sentidos (Kâmas) são grandes e poderosos; porém, maior e mais poderosa é a mente; maior do que esta é a Razão, e o mais forte é o Eu Real, a Luz da Divindade” ( BG.42) Referindo-se Manas, Budhi e Atma, respectivamente.

O conhecimento é superior à ação. Pois ele possibilita a dominação dos objetos dos sentidos ao ponto em que a prática da reta ação, ou o cumprimento do serviço da Vontade Divina, se torne naturalmente altruísta, porque o caminho à Luz é o reto cumprimento do “dever-ser”.

A luxúria, que é o desejo egoísta e passional pelos prazeres materiais, produto da paixão, e que se transforma em ira quando não satisfeita, é um “grande demônio”, considerada a origem de todo o pecado, como informa a Divindade, pois retira o peregrino do caminho da Luz. Ela é, desta forma, inimiga do autoconhecimento, tendo um poder de aniquilação contra o outro. Por isto, o controle dos sentidos é imprescindível para matar os apelos materiais, que destroem a auto-realização.

“ O CONHECIMENTO ESPIRITUAL NO CAMINHO DA RENÚNCIA”

O ensinamento do capítulo anterior é chamado Karma-yoga, e foi declarado por Krishna como a suprema ciência secreta da reta-ação.

“Já na mais remota antiguidade dei esta doutrina da união com o Eu Divino a Vivasvat. Ele a ensinou a Manu, e este a transmitiu a Ikshvâku, o fundador da dinastia solar.”(BG,IV,1)

Vivasvat é a Mente Divina primordial, o Sol Espiritual no princípio do universo; Manu vem do sânscrito “man”, pensar que é relacionado ao Filho do Sol e Pai da raça humana. Krishna diz ainda que esta doutrina era conhecida dos Reis Sábios ou Patriarcas, os Rishis.

“Escuta este mistério. Eu sou superior ao nascimento; sou inato e eterno, sou o Senhor de todas as criaturas, pois tudo emana de Mim: Mas também nasço, gerado por meu próprio Poder.”(BG,IV,6)

Diferenciando a ação desapegada (reta ação), a ação desapegada (inação) e a má ação, Arjuna é orientado de que o Sábio é, pois, aquele cujas obras são “livres dos vínculos de esperanças egoístas”. Aquele que renunciou “ ao fruto de suas ações” e por isso é feliz e confia “ na força divina do seu interior”, a qual ele deixa agir por si.

O necessário ao homem, antes que o deus ou a sua idéia, é a sinceridade da sua determinação nobre de buscar. Assim, é dito que “ Todas as formas religiosas, embora com denominações diferentes, a Mim os conduzem.”

Uma antiga teoria metafísica indiana afirma que todas as religiões confluem à Religião Única, sendo cada qual uma expressão Desta. Á medida que de tempos em tempos a humanidade se encontra sufocada pela decadência do Dharma (justiça; reto agir) e a predominância do Adharma (injustiça; torto agir), o que é demonstrado pelo comportamento moral e espiritual dos seres, o Supremo se manifesta no corpo de um Avatar ( Buda, Krishna, Maomé e, para algumas interpretações, Cristo), com a missão de resgatar a humanidade para o caminho da Verdade, protegendo os bons, mudar os pecadores e restabelecer a ordem ou Dharma. Assim, o Ser Eterno é Espírito e corpo; divindade e humano.

As escolhas da humanidade produzem desvirtuados e malfeitores que contaminam e fazem fenecer a ordem do mundo. Mas a Compaixão Divina encarna-se para restabelecer o equilíbrio.

Em paralelo com o cristianismo, é fácil observar que este encontrou solo fértil no período histórico no qual o Império Romano encontrava-se imerso na iniqüidade e na corrupção.

A busca pelo conhecimento da Verdade conduzirá cada homem “pelo mar dos erros”. Não há, pois, caminho errado, erro indesculpável ou condenação ao esquecimento de Deus porque o homem detém os instrumentos de sua salvação. A oração e a devoção são formas de reconhecimento da magnitude de Deus e os meios pelos quais nos aproximamos do Imutável Senhor.

“De Mim procedem as quatro castas”, explica Krishna se referindo às classes da atividade humana, baseada na vocação e aptidões: Os Brâmanes (sábios ou sacerdotes), os Kshattriyas (guerreiros), os Vaísyas comerciantes) e os Sudras (operários), as quais são incompreendidas pelo Ocidente e pelo hindu moderno.

Vejamos que Galeno ( 131-201 d.C.), médico e filósofo grego, classificou os temperamentos humanos em quatro espécies: Coléricos, sanguíneos, fleumáticos e biliosos. Também, os biotipos característicos da psicologia contemporânea, através das quais descobrimos nossas vocações para as artes e profissões.

A natureza humana é Uma, porque emanada da Unidade, segundo a filosofia hindu, se diferenciando pelas características que se somam no processo reencarnatório de evolução. Assim, enquanto alguns são vocacionados ao altruísmo e à própria mística (Brâmanes), outros o são à Justiça (kshattriyas). Ao passo que existem aqueles naturalmente inclinados ao comércio, que operam na dimensão dos objetos, os Vaísyas; Há os homens que se identificam com as artes menores que são os operários ou Sudras. Os sem castas, segundo o hinduísmo, são os considerados marginais. Portanto, esta divisão de castas nasce da leitura hindu da natureza humana que, hoje, deturpada, transformou-se em base ignominiosa à separatividade e ao preconceito, pois que voltada à letra morta e não ao seu essencial conteúdo, segundo este ensinamento.

O Karma deve ser realizado visando causas e ganhos pessoais justos. Confirmando que até mesmo um sábio confunde-se sobre o que é ação e o que é inação, o Baghavad-Gîtâ nos explica, claramente, o que é ação. Este conhecimento é o que nos libera do “mal do nascimento e da morte”.

Por ser de difícil compreensão a verdadeira natureza da ação, primeiro deve-se conhecer a natureza da ação apegada, a natureza da ação desapegada, e, a natureza da ação proibida.

A ação apegada é a conduta ou o trabalho egoísta, realizada no modo da paixão em atendimento às necessidades apenas dos Kuravas. Este tipo de ação produz o aprisionamento ao círculo kármico, o que conduz o ser ao ciclo de reencarnação.

A ação desapegada,ao contrário da primeira, é a conduta ou trabalho altruísta, realizada dentro da bondade em atendimento às necessidades do próximo e da falange dos Pândavas. Esta ação conduz à salvação. A ação desapegada é considerada inação pois, do ponto de vista kármico, não existe ação.É só o Bem. Não tem em si a força de reação kármica. É uma via de mão-única para Deus. Apenas eleva o praticante à Unidade do Espírito Eterno.
A ação proibida é aquela prejudicial ao próximo, à sociedade e para o seu próprio praticante. É realizada no modo da ignorância e, como não poderia deixar de ser, ativa a reação kármica gerando desgraça.

Deste modo, a reta ação (Karma-Yogi) não está sujeita ás Leis Kármicas ou de Causa e Efeito. “Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, é uma pessoa sábia. Tal pessoa é um yogi e possui tudo por completo (4.18).”

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